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"EU SOU ESPARSA..." introdução
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Terminou
19/09/2020 - 27/09/2020
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“sou esparsa, e a liquidez maciça”*
Gestos de Liberdade

Ciclo BUALA no maat

A maturidade democrática de um país não é inabalável, tal como não o são as liberdades tantas vezes sob ameaça. A partir dos significados e práticas dessas liberdades na nossa vivência atual, artística e social (irradiando para outros contextos), o propósito deste ciclo é pensar a liberdade de novo e experimentá-la outra vez. Atravessamos uma crise sanitária e social, que acentuou a precariedade e a discriminação de certos grupos. A crise ambiental agiganta-se e hierarquiza mais a humanidade. Cientes de que o bem-estar social está longe de acontecer, a liberdade está debaixo da nossa língua. Porém, a liberdade pode ser algo muito diferente em função do espaço, do meio, e do momento, de que falamos.

Numa sociedade ainda marcada por profundas desigualdades de género, e entendendo a emancipação e a liberdade como processos de disputa diária, debatemos conquistas e direitos, e expectativas quanto ao corpo, carreira, maternidade, representatividade, circulação, e propostas artísticas. Disto faz parte a doença, a violência, a liberdade sexual, o universo doméstico, o mundo laboral (e o trabalho invisível), a interiorização de privações e as mil vontades que acontecem para romper com o status quo. Pensamos a liberdade a partir do nosso tempo contribuindo para um retrato do país nas suas estruturas e desigualdades, com a ajuda de percursos de inteligência, coragem, emancipação, e luta pela felicidade.

A propósito das comemorações dos dez anos do portal BUALA e da liberdade como uma eterna ambição e ativação, vamos conversar com artistas, pensadoras e agitadoras. A antropóloga e videasta Catarina Barata, que trabalha sobre violência obstétrica, fala-nos dos fatores sociais, culturais, económicos, e políticos ligados ao parto. A socióloga Inês Brasão desenha a condição plural do corpo e do trabalho das mulheres, e Sara Goulart reflete sobre o corpo, a doença, e a cura.

Assistiremos a projeções de filmes, seguidas de debate: Parto Sem Dor de Maria Mire, a partir da história da médica e feminista Cesina Bermudes; o retrato de um país num mosaico de diversas mulheres no filme Mulheres do Meu País de Raquel Freire, que será comentado pela professora e economista Susana Peralta; o percurso da geógrafa Suzanne Daveau e do seu arquivo de “imagens-viagens” que Luisa Homem desvela; e ainda os testemunhos de combatentes pela independência da Guiné-Bissau, trazidos por Rui Vilela.

Ana Gandum e Daniela Rodrigues debruçam-se sobre os souvenirs de migrantes portugueses entre Portugal e o Brasil. Gisela Casimiro ironiza a história de arte ocidental contrapropondo o seu Museu Pessoal, em debate com Patrícia Azevedo da Silva. A investigadora Filipa Lowndes Vicente fala-nos do seu livro, A Arte sem História: Mulheres e Cultura Artística. Fernanda Eugénio dá a conhecer a sua metodologia para a investigação experiencial da relação e da reciprocidade. Andreia Cunha satiriza os efeitos sociais da expressão do ridículo num ensaio visual. A fechar o ciclo, Marta Mestre reflete sobre a curadoria de uma exposição sobre linguagem, fracassos e ficção.

“eu sou esparsa, e a liquidez maciça” é um excerto do poema “Mulher ao Mar” de Margarida Vale de Gato — Mulher ao Mar, Mariposa Azual, Lisboa, 2010. Neste mesmo ano neste ano foi criado o BUALA, um portal online sobre pensamento e cultura descolonial e feminista.
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