Arquitetura do Mar Fechado: Entre Aquários e Áreas Marinhas Protegidas
Programa público desenvolvido em parceria com TBA21–Academy
O programa Arquitetura do Mar Fechado: Entre Aquários e Áreas Marinhas Protegidas explora as repercussões arquitetónicas, geopolíticas e históricas de duas técnicas espaciais no conhecimento e na gestão da vida marinha na era moderna. Estabelece-se a comparação entre as personagens dos aquários e das zonas marinhas protegidas, respetivamente, no âmbito das culturas oceânicas e da conservação marinha. Os aquários são massas de água volumétricas em espaços fechados. As zonas marinhas protegidas são territórios oceânicos de dimensão compreendida entre as dezenas e as dezenas de milhares de quilómetros quadrados. Ambos servem propósitos científicos, políticos e recreativos, ambos são utilizados na proteção da natureza e ambos reproduzem uma determinada visão do mundo. Que outras histórias em comum encontraremos ao longo da variação das escalas dos sistemas que “delimitam o mar”?
No arranque da “Década do Oceano”, lançada pela ONU, o programa indaga e reflete acerca destas arquiteturas de delimitação dos oceanos, ponderando sobre o imaginário territorial das massas de água contidas e dos materiais físicos que as contêm. As palestras e eventos programados darão vida às dinâmicas que extravasam os limites fixos destas “caixas” – tais como as paredes em Perspex de um tanque ou as linhas de um mapa. Em conjunto, olharemos para lá das categorias interior/exterior que definem o espaço aquático a fim de explorar as ecologias culturais da convivência, colaboração e coesão oceânica.
Reunindo historiadores da ciência, biólogos marinhos, artistas, arquitetos, ecologistas políticos e outros profissionais empenhados na descolonização da conservação marinha, Arquitetura do Mar Fechado é um simpósio com a duração de um dia em que se pretende construir um diálogo multidisciplinar com vista a traçar as muitas correlações entre os aquários e as áreas marinhas protegidas. Convidando à participação de trabalhadores em terra interessados, aquicultores e maricultores, bem como de profissionais das áreas de políticas públicas, investigação e indústrias marítimas, pretende-se explorar coletivamente as possibilidades e os problemas da delimitação do oceano.
Este programa conta com dois dias de workshop para participantes inscritos e um programa público, aberto a todos, que começa na sexta-feira com o aperitivo, às 19.00 nos jardins do maat, e continua durante o dia de sábado entre as 11.30 e as 21.00 com várias conversas, palestras, debates e screenings.
Saiba mais sobre o workshop aqui.
Programa Público
Sábado, 03/07/2021
11.30–11.45
Boas-vindas e apresentação
11.45–12.30
Palestra
Fechar Enquanto Método
Com Susanne Bauer e Martina Schlünder
Moderação de Louise Carver, seguida de sessão de Q&A
Serão as “caixas” artefactos culturais e epistemológicos da modernidade ocidental? Como estruturam o pensamento, a sociedade, o conhecimento e o mundo material? Existirá realmente uma maneira de pensarmos “fora da caixa”, ou será que esse esforço nos remete sempre para perspetivas limitadas? Este painel explora as “caixas” no seu sentido mais amplo, convidando-nos a imergir no tema, deslindar o modo como o mundo que nos rodeia é delimitado e por que razão, e entender como poderemos fazer diferente. Procura-se repensar os formatos e as infraestruturas de práticas de ordenamento que tomamos como certas à medida que estas simultaneamente moldam e reagem à relação das sociedades com a ciência, a natureza e o Antropoceno. A “Caixa” Enquanto Método abre caminho para as discussões que se desenrolarão ao longo do dia.
12.30–13.30
Painel de discussão
Globalizar o Espaço da Água Delimitada? Para uma Política Territorial do Oceano Convivial
Com Mohammad Arju, Hugh Govan e Moenieba Isaacs
Moderação de Louise Carver, seguida de sessão de Q&A
Este painel analisa a ciência e as políticas que fundamentam a visão da governação global para a proteção marinha na próxima década. Os líderes mundiais unem-se no apelo à ação “30x30”, delineando metas para compromissos internacionais no sentido de designar 30% das águas globais como área marinha protegida até 2030. Não obstante este sinal promissor de vontade política em prol da saúde dos oceanos, continuam a existir preocupações quanto aos efeitos que este tipo de projeto mundial totalizador, assente numa política territorial de exclusão, terá em diferentes lugares do mundo, sobretudo na subsistência dos pescadores de pequena escala – não é claro quem sairá a ganhar e quem poderá ficar a perder com estes acordos, ou até que ponto serão eficazes na conservação dos oceanos. O painel apresenta ainda novas visões radicais sobre a conservação da biodiversidade marinha que assentam em princípios de convivialidade – um paradigma emergente que transcende as abordagens coloniais historicamente associadas à lógica capitalista.
14.15–15.15
Painel de debate
Ver Através do Aquário: A Proteção dos Oceanos à Escala Planetária como Projeto Arquitetónico
Com Roi Salgueiro Barrio e Samantha Muka
Moderação de Louise Carver
Quais são as ligações entre a arquitetura à escala de um aquário doméstico e os projetos continentais de geoengenharia da Europa do século XX? Olhando através e para além destas duas abordagens, como poderemos fazer uma melhor leitura dos processos históricos de investigação científica, ordenamento do território e territorialização que estão na base dos esforços contemporâneos para proteger os oceanos globais? Paradoxalmente, como é que as transformações históricas dos imaginários urbanos globais subscrevem os atuais impulsos de renaturalização do Planeta, tais como as propostas de E.O. Wilson para a conservação de metade de todo o território e mares da Terra? E qual a importância das redes globais de aquários de hoje não apenas para a investigação científica, mas cada vez mais como locais de conservação “ex-situ”, recuperando populações de espécies de animais e de corais em extinção com vista à regeneração dos oceanos?
15.15–16.45
Painel de debate
Por Dentro das Casas das Máquinas dos Aquários e das Áreas Marinhas Protegidas
Com Armin Linke, Emanuel Gonçalves e Miguel Tiago de Oliveira
Moderação de Angela Rui
Explorar os “bastidores” ou a “sala de controlo” das arquiteturas de delimitação é desvendar as práticas de gestão das condições de vida do oceano. Este painel analisa os desafios técnicos da coordenação de um ecossistema oceânico artificial em aquários, bem como a mecânica da oceanografia de conservação. Podem estas duas escalas ser comparadas? O que nos diz o artifício tecnológico de um aquário sobre a história da ecologia de ecossistemas ou o desenho de uma Área Marinha Protegida? Que tipo de experiência, tecnologias, padrões e histórias científicas dão forma á criação e manutenção das condições geradoras de vida de um aquário ou de uma área marinha protegida?
17.00–17.45
Conversa
Peter Chermayeff e Carson Chan
Seguida de sessão de Q&A
Arquiteto responsável não só pelo Oceanário de Lisboa, construído em 1998, mas por inúmeros outros grandes projetos de aquários em todo o mundo desde a década de 1960, Peter Chermayeff conversa com o aquarista, curador e investigador em arquitetura Carson Chan. Ambos discutirão as origens da visão de Chermayeff para o Oceanário de Lisboa, a interação entre conservação, entretenimento e design arquitetónico, e a mudança das expectativas da sociedade relativamente à natureza e o papel dos edifícios zoológicos no século XXI.
17.45–18.30
Palestra
EURO-VISÃO: O Peixe como Recurso Crítico
Com FRAUD (Audrey Samson & Francisco Gallardo) e Francisca Roseiro
Moderação de Louise Carver
Os recursos marinhos estão em estado de colapso global. Em 2016, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura declarou que 89,05% dos recursos haliêuticos globais estavam totalmente explorados ou sobre-explorados. Paralelamente, devido à sobre-exploração das suas águas costeiras, a União Europeia negociou Acordos de Parceria no Domínio das Pescas (FPAs, Fisheries Partnership Agreements) com muitos países do Sul Global. Assemelhando-se a formas de neocolonialismo, estes acordos têm um impacto devastador na vida marinha para além do Mar Mediterrâneo, levando em muitos casos ao esgotamento dos lotes de peixe e à perda da pesca local e do conhecimento tradicional. É possível que estas “parcerias” existam de forma ética e sustentável? Como podem ser cultivadas com base numa abordagem ecológica e não-colonial que rompa com uma mentalidade puramente extrativista? A dupla de artistas FRAUD discutirá a sua pesquisa artística sobre a ligação entre as políticas de pesca europeias e a conservação marinha para lá das suas águas jurisdicionais.
19.00–20.45
Screenings
Público-alvo:
Encorajamos a participação de estudantes de pós-graduação em ciências marinhas, ciências sociais e políticas, design, arquitetura, arte ou outras disciplinas relacionadas. A inscrição de outros profissionais ou indivíduos com um interesse relativamente especializado nos tópicos apresentados também é bem-vinda.
Consulte o programa completo (PDF)