Resultado de mais de dois anos de investigação crítica em ciência climática, práticas criativas e ecopolítica, Naturezas Visuais é a continuação da jornada iniciada em 2021 com a instalação Earth Bits – Sentir o Planeta, baseada em dados científicos, e o programa público Clima: Emergência > Emergente, com curadoria do primeiro Coletivo Climático do maat.
Este projeto de investigação estuda as práticas de ação coletiva a nível político, social e cultural que, nos últimos cerca de cem anos, têm vindo a demonstrar de que modo a transformadora compreensão humana da “natureza” – filosófica, biológica e económica – está na base dos modos de organização, subsistência e governação das nossas comunidades enquanto modelo planetário em expansão, tanto no plano conceptual como no prático. O mapeamento que daí resulta faz uma leitura cruzada de quatro temas de estudo – produção artística e eventos culturais, inovações tecnológicas e descobertas científicas, movimentos sociais e reflexões sobre governação global – que obedece a uma ordem cronológica aproximada, desde a década de 1950 até aos nossos dias. Ao desafio da natureza enciclopédica do projeto a apresentação responde com a organização em três grandes temas encadeados – Ecologia Profunda 1950–1990, Complexo Planetário 1990–2010 e Multinaturalismo 2010–2020 –, cada um dos quais convergindo para o alargamento do significado de “ecologia” e “ambientalismo”, conceitos que a partir da década de 1960 se tornaram centrais no debate público internacional em virtude da comprovada indissociabilidade dos fenómenos do crescimento global, da escassez de recursos naturais e da poluição.
Apropriando-se deliberadamente de uma expressão cunhada pelo arquiteto e artista Paulo Tavares (membro do Coletivo Climático do maat 2021), “naturezas visuais” aponta para uma política e uma estética pós-antropocêntricas e não-hegemónicas do ambientalismo destinadas a emergir como paradigma democrático e igualitário de convivência com a natureza que transcende cosmovisões centradas no ser humano e recusa a violência ecológica do extrativismo.
Encomendado à arquiteta brasileira Carla Juaçaba, o desenho do espaço em que esta investigação é apresentada inspira-se acertadamente em A Conferência dos Pássaros, uma parábola sufi escrita no século XII pelo poeta persa Farid al-Din Attar que constitui uma alegoria moral sobre a soberania e a busca da verdade através do sacrifício partilhado. Afirma Juaçaba: “O projeto da exposição é uma ‘sala de conferências’, na qual somos pássaros que discutem uma nova ordem entre natureza e homem e entre ciência e democracia, ao mesmo tempo que redefinimos a ideia de progresso. Trata-se de um espaço político, já que ali se discute a convivência e como ‘encontrar a maneira certa de compormos um mundo comum, o tipo de mundo que os Gregos designavam por cosmos’ (Bruno Latour).”
Os conteúdos desta investigação são apresentados num interface digital personalizada que o estúdio dotdotdot desenhou e desenvolveu, em contínua colaboração com o maat, a partir da instalação Earth Bits de 2021. Os visitantes podem navegar pelos conteúdos multimédia – imagens, vídeos, textos – seguindo os três principais capítulos temáticos distribuídos cronologicamente pelos 42 lugares da assembleia desenhada por Juaçaba, cada qual dotado de um ecrã tátil que permite navegar verticalmente para comparar informação entre os quatro temas de estudo ou horizontalmente para uma deslocação no tempo.
A exposição inclui uma Biblioteca do Clima, que consiste numa zona de leitura integrada na instalação onde uma vasta lista de referência de livros e publicações pertinentes sobre os diversos assuntos abordados é disponibilizada em catálogo digital e, parcialmente, em formato físico.
O corpo principal da instalação Earth Bits (2021) volta a ser exposto, apresentando novamente a consola interativa CO2 Mixer e uma nova versão do vídeo Planet Calls.
Uma série de artigos e contribuições resultantes deste trabalho de investigação poderá ser consultada no maat ext. ao longo da exposição.
Os projetos Naturezas Visuais e Earth Bits são viabilizados por uma parceria continuada com a Novo Verde e a ERP Portugal – Entidade Gestora de Resíduos.
Créditos
Direção de arte: Beatrice Leanza
Pesquisa e curadoria: Beatrice Leanza, Nuno Ferreira de Carvalho, Rita Marques, Camila Maissune, Maria Kruglyak, Amir Halabi, Bárbara Borges de Campos
Design interativo: dotdotdot (Alessandro Masserdotti, Laura Dellamotta, Fabrizio Pignoloni, Giovanna Gardi, Nicola Buccioli, Mariasilvia Poltronieri, Davide Bonafede, Simone Bacchini, Nicola Ariutti)
Design da instalação: Carla Juaçaba
Identidade visual: Lisa H. Moura (maat)
Produção: Francisco Soares
Produção audiovisual: Nuno Fernandes Paula
Agradecimentos
Agnes Denes e Leslie Tonkonow Artworks + Projects, Alan Sonfist; Allan Sekula Studio; Allora & Calzadilla e The Gladstone Gallery; Ana Mendieta Estate e Galerie LeLong; Antero Kare; Armin Linke; Ars Electronica Archive; atelier d’architecture autogérée; Auburn University Rural Studio e Timothy Hursley; Betsy Damon e Asia Art Archive America; Bildmuseet, Ken + Julia Yonetani, Robert Williams, Bryan McGovern Wilson e David Mabb; Biosphere 2, University of Arizona; Black Mountain College Museum + Arts Center; Bright Ugochukwu Eke; Carla Maldonado; Carsten Höller Studio; Casa Río Lab; Cecilia Vicuña Studio; Christo e Jeanne-Claude Foundation; City of Kent Art Commission: Cooper Hewitt, Smithsonian Design Museum's Library; David OReilly; Decolonizing Architecture Art Research (DAAR); Delhi Greens; Dennis Oppenheim Estate; Dia Art Foundation; Diller Scofidio + Renfro; Dineo Seshee Bopape e Galerie Sfeir-Semler; Diogo Evangelista; documenta archiv; Dominique Mazeaud; Eduardo Kac; Eli Noyes; Elizabeth A. Povinelli e Karrabing Film Collective; Eve Erée Laramée; Evelyn Roth; Formafantasma; Fotoarchiv Kunsthalle Basel; Fundación Nicolás García Uriburu; Gail Gelburd; Gene Bernofsky e Richard Kallweit; Georg Dietzler; George Gessert; Grant Kester; Günther Zamp Kelp; Hartware MedienKunstVerein (HMKV); Helen Mayer Harrison e Newton Harrison; Himali Singh Soin com David Soin Tappeser, Jordan Nasser e Viveka Chauhan; Hirshhorn Museum e Sculpture Garden, Smithsonian Institute; Hope Ginsburg; Jean-Baptiste Decavèle, Marianne Friedman-Polonsky e Fonds de Dotation Denise et Yona Friedman; Jean-Paul Jungmann; Jenna Sutela; Jens Hauser; Julia Connor e the John Cage Trust; Julie Martin e GB Agency; Juliet Kepes Stone; Kate Crawford e Vladan Joler; Kathryn Miller e Michael Honer; Katie Paterson e Ingleby, Edinburgh; King County Arts Commission; Kunstmuseum Lichtenstein; LACMA, Balch Art Research Library e Malcolm Lubliner: Lara Almárcegui; Latitudes (Max Andrews e Mariana Cànepa Luna); Laura Gustafsson e Terike Haapoja; Lemna International; Les Abattoirs / Bibliotheque des Abattoirs: Lise Autogena e Joshua Portway; Liu Xiadong e Lisson Gallery; Lloyd Kahn; Lonne Van Brummelen e Siebren de Haan; Lucia Pietroiusti; Lucy Davis e o Migrant Ecologies Project; Ludwig Forum, Aachen; Mabe Bethônico; Maria Thereza Alves; Marjetica Potrč e Galerie Nordenhake; Mark Dion e Tanya Bonakdar Gallery; Massimiliano Gioni; Maya Lin Studio; Mel Chin; Michael Callahan, Gerd Stern, Carl Solway Gallery e Paige Rozanski of National Gallery of Art, Washington D.C.; Michael Rakowitz e Barbara Wien Gallery; Michael Wang; Milton Becerra ("Meteorito", 1985); Minerva Cuevas e Kurimanzotto Gallery; Monira Al Qadiri; Museum of Contemporary Art, Chicago; Nicole Fournier ("Live Dining", 2005-em curso); Nils Norman; Nobuo Sekine Estate e Blum & Poe; North Carolina State Archives; Olafur Eliasson Studio; Orin Langelle; Orkan Telhan; Ou Ning; Pamela Seymour Sharp; Patricia Johanson; Paul Rosero Contreras; Paula Cooper Gallery; Paulo Arraiano; Pedro Neves Marques; Pekka Niskanen; Peter Fend e Ocean Earth Development Corporation; Peter Marshall; Petri Eskelinen; Platform; Pori Art Museum; Prof. Heinz Mack Atelier; Robert Horvitz e Fabrice Florin; Robert Morris Estate e Castelli Gallery; Sanjay Kak; Sharjah Biennial; Smart Museum of Art, The University of Chicago; Søren Dahlgaard, Elena Gilbert, Paolo Rosso de Microlima e Amani Naseem ("Maldives Exodus Caravan Show", 2013-2017); Stalker; Steve Kutz e Steve Barnes / Critical Art Ensemble; Studio Breon Ballengée; Sue Spaid; Superflex; SUPERFLUX (Anab Jain e Jon Ardern); Susan Snodgrass; Tavares Strachan; The Aspen Institute e Ferenc Berko Estate; The Estate of R. Buckminster Fuller; The Land Foundation; The Rauschenberg Foundation; Tue Greenfort; University Archive of Berkeley UC; University Archives of Illinois Institute of Technology; Unknown Fields Division (Liam Young e Katy Davies); Urban-Think Tank e Alfredo Brillembourg; Uriel Orlow; Ursula Biemann; Ute Hörner e Mathias Antlfinger / CMUK; Verbier Art Summit; William Irvin Thompson Estate; ZKM – Center for Art e Media e Bruno Latour
Parceria
Novo Verde e ERP Portugal – Entidade Gestora de Resíduos