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VIDEOARTE EM AGOSTO #4
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BRUCE
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BRUCE
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22/08/2020 - 22/08/2020
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VIDEOARTE EM AGOSTO #4
Curador convidado: Lori Zippay

Bruce Nauman é, reconhecidamente, um dos nomes maiores e mais influentes da arte contemporânea. Nascido em Fort Wayne, Indiana, in 1941, Nauman forjou uma prática artística singular no seio da arte conceptual, abrangendo diferentes media, incluindo performance, filme, vídeo, escultura, fotografia e instalações. Envolvendo a linguagem e o corpo (físico) para criar um novo vocabulário artístico, Nauman questiona incessantemente o papel do artista e a função e os processos da produção de arte.
 
No final da década de 1960 e no início dos anos 70, Nauman realizou uma série pioneira de filmes em 16mm e de vídeos em fita magnética de meia polegada, que se contam entre os trabalhos mais inovadores e influentes da altura, e que continuaram a impactar as gerações que se seguiram. Criados pelo artista, sozinho no seu estúdio, usando o próprio corpo enquanto objeto artístico e o espaço físico imediato como material de trabalho, estas obras refletem e redefinem radicalmente uma arte que é simultaneamente divertida e filosófica.
 
Nauman afirmou-se como artista numa altura artisticamente fértil e no seio da paisagem política dos EUA do final dos anos 60, absorvendo ideias da arte experimental e de coreógrafos e compositores que estavam a incorporar movimentos e sons do quotidiano na dança e na música, escritores como Samuel Beckett, e filósofos como Ludwig Wittgenstein, cujos “jogos de linguagem” foram uma influência assumida.
 
Os primeiros filmes e vídeos de Nauman integram o contexto histórico da arte Pós-Minimalista, quando os artistas estavam a expandir e a desafiar os contextos no seio dos quais a arte estava a ser produzida, vista e exibida. Utilizando a performance como processo de investigação, e abordando o corpo enquanto escultura, Nauman usou filme e vídeo para conceber exercícios conceptuais que muitas vezes evidenciam um humor absurdista. 
 
Nestas primeiras obras com imagem-em-movimento, Nauman, vestindo uns jeans negros e uma T-shirt branca ou preta, representa – sozinho e em tempo real – frente a uma câmara fixa. Repete, frequentemente, uma única ação por um período prolongado de tempo, como em Playing a Note on the Violin While I Walk Around the Studio (1967-68) e Walk with Contrapposto (1968). Noutros trabalhos usa o corpo para mapear o seu estúdio, no espaço e no tempo, tal como em in Dance or Exercise on the Perimeter of a Square (Square Dance), ou para testar os limites da sua endurance física (e a dos espetadores), como em Violin Film 1 (Playing the Violin as Fast as I Can) (1967-68) e Stamping in the Studio (1968), no decorrer do qual repete uma mesma ação, durante uma hora extenuante. Noutros trabalhos explora os parâmetros técnicos e os significados do próprio meio, como, por exemplo, o som dessincronizado em Bouncing Two Balls Between the Floor and Ceiling with Changing Rhythms (1967-68), ou o muito grande plano em slow motion de Bouncing Balls (1969). 
 
A escultura de Nauman de 1967, The True Artist Helps the World by Revealing Mystic Truths (Window or wall sign), concebida na mesma altura destas peças mais antigas, é considerada uma das suas obras mais icónicas. Um néon – dos que tipicamente encontramos em bares ou montras – mostra a frase do título em escrita cursiva, formando uma espiral azul. 
 
A justaposição do texto metafísico sobre matéria industrial e em forma de anúncio é, ao mesmo tempo, cómica e poética. Num desenho anterior, The True Artist is an Amazing Luminous Fountain (Window or wall shade) (1966), estas palavras estranhas estão dispostas ao longo das margens de uma folha de papel. Tal como nestes pronunciamentos crípticos, criados num momento histórico, de grande turbulência social, artística e política, os trabalhos atuais de Bruce Nauman em imagens-em-movimento, também confrontam o espectador com questões sobre a função do artista na cultura em geral.
 
A trabalhar no Novo México desde 1979, longe dos epicentros da cena internacional da arte contemporânea, Nauman continua a fazer arte que desafia as expectativas e a categorização fácil. Neste nosso tempo de crise e isolamento, quando mesmo o significado de “verdade” é posto em causa, e os artistas são comercializados como produtos, é instrutivo revisitar a interrogação constante do “verdadeiro artista”:  sozinho no estúdio, usando o seu corpo e uma câmara para fazer uma arte que questiona o que significa fazer arte.

Lori Zippay é uma curadora, escritora e consultora baseada em Nova-Iorque, ativa na organização de exposições de media art e na distribuição e na preservação deste medium, há mais de trinta e cinco anos. Desde meados dos anos 80 até 2019, foi Diretora Executiva da Electronic Arts Intermix (EAI), uma associação sem fins lucrativos, e um dos mais importantes repositórios de media art. Zippay construiu o arquivo, que conta com mais de 4000 obras de media art, tendo também iniciado um programa pioneiro de preservação das obras em suporte videográfico. Comissariou um grande número de exposições de media art e de programação em vídeo, incluindo a antológica Circa 1971: Film & Video from the EAI Archives para o Dia:Beacon, Nova Iorque (2012); Zippay dá regularmente palestras em instituições culturais e participa em conferências em todo o mundo, das quais destaca as do The Museum of Modern Art, Nova Iorque; Tate Modern, Londres; e Centro Georges Pompidou, em Paris, entre muitas outras. Escreve extensivamente sobre media art, tendo desenvolvido e sido consultora em projetos de curadoria, de preservação e de projetos educativos com jovens artistas ou artistas estabelecidos.Participou em júris de festivais internacionais, em comissões para atribuição de financiamento, em simpósios e em painéis de consultores. Presentemente, enquanto Diretora Emérita da EAI, participa nos Conselhos Consultivos da Times Square Arts, e, também, no Collaborative Cataloging Japan.

Bouncing Two Balls Between the Floor and Ceiling with Changing Rhythms, Bruce Nauman
10’, 1967-68

Neste filme, Nauman faz ressaltar duas bolas no centro de um quadrado desenhado com fita adesiva no chão do estúdio. Lança-as com toda a força, tentando manter um padrão específico, mas elas perdem o controlo no ricochete à medida que os movimentos de Nauman vão ficando mais saltitantes e imprevisíveis. Filmado em plano fixo no estúdio que Nauman sub-arrendou a William T. Wiley em Mill Valley, California. O som e a imagem não estão síncronos porque Nauman “não tinha o equipamento e a paciência” para as coordenar. 
 

Bouncing Balls, Bruce Nauman
9’, 1969

Neste filme, Nauman balança os testículos com uma mão. Filmado em extremo close-up, o trabalho é talvez uma referência irónica ao filme anterior Bouncing Two Balls Between the Floor and Ceiling with Changing Rhythms, no qual fazia ressaltar bolas de borracha. Juntamente com Black Balls, Gauze e Pulling Mouth, Bouncing Balls é um dos seus filmes “slo-mo” gravados com uma câmara de vídeo industrial de alta velocidade.
In this film, Nauman bounces his testicles with one hand. Shot in extreme close-up, the work is perhaps an ironic reference to an earlier film Bouncing Two Balls Between the Floor and Ceiling with Changing Rhythms in which he bounced rubber balls. Along with Black Balls, Gauze and Pulling Mouth, Bouncing Balls is one of Nauman's "Slo-Mo" films which are shot with an industrial high-speed camera.

Dance or Exercise on the Perimeter of a Square (Square Dance), Bruce Nauman
8’24’’, 1967-68

Para este filme, Nauman fez um quadrado de fita adesiva no chão do estúdio, com uma marca na metade de cada um dos lados. Ao som do metrónomo e começando numa aresta, metodicamente circula pelo perímetro do quadrado, às vezes de frente para o seu interior, noutras de costas. Cada passo é o equivalente à metade do tamanho de cada lado do quadrado. Usa o mesmo caminhar do Walk with Contrapposto. 

Bruce Nauman nasceu em 1941 em Fort Wayne, Indiana, mas reside em Galisteo, Novo México, desde 1979. Graduou-se na Universidade de Wisconsin, Madison, e fez o seu doutoramento em Belas Artes (MFA) pela Universidade da Califórnia, Davis. Tem sido o recipiente de importantes prémios, tais como: Wolf Foundation Prize in Arts (1993), Wexner Prize (1994), Leão de Ouro na 48ª Venice Biennale (1999), Praemium Imperiale, no Japão (2004), e foi laureado com o Austrian Frederick Kiesler Prize (2014). Nauman foi o artista escolhido para representar os Estados Unidos da América na 53ª Venice Biennale (2009), sendo galardoado com o Leão d’Ouro por Melhor Representação Nacional. O seu trabalho tem sido homenageado em numerosos museus, incluindo o Los Angeles County Museum of Art (1972), o Whitney Museum of American Art, New York (1973) e a Whitechapel Art Gallery, Londres, em colaboração com a Kunsthalle Basel e o Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris (1986-1987). Um grande retrospetiva co-organizada pelo The Walker Art Center e o Hirshhorn Museum, foi inaugurada no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, tendo depois viajado para o Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Hirshhorn Museum, Washington, D.C.; The Museum of Modern Art, Nova Iorque; e a Kunsthaus Zurich (1993-1995). Teve inúmeras exposições individuais, das quais se destacam a da Tate Modern’s Turbine Hall (2004); Berkeley Art Museum, University of California, Berkeley; Castello di Rivoli, Itália; Menil Collection (2007-2008), e na Fondation Cartier, Paris (2015), entre muitas outras. Uma retrospetiva da obra completa do artista, Bruce Nauman: Disappearing Acts, abriu na Schaulager, Basel (2018), viajando depois para The Museum of Modern Art e MoMA P.S.1, ambos em Nova Iorque (2018-2019).

“Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia”
(Eça de Queiroz, A Relíquia, 1887)

Numa parceria com a Horta Seca, organizadora do festival Temps d’Images ou Fuso — Festival de Vídeo Arte Internacional de Lisboa, o maat apresenta Sobre a nudez crua da verdade, um ciclo de videoarte que ocorrerá durante um mês em quatro sessões que terão lugar aos sábados ao final do dia.

O projeto tem como mote o tema da verdade, inspirando-se nesta icónica frase do livro de Eça de Queiroz e no pensamento que o sustenta: que a fantasia permite frequentemente transmitir ou revelar uma verdade.
Quatro reconhecidos curadores na área da videoarte internacional foram convidados a trazer ao museu uma proposta no âmbito do programa maat Mode 2020 para cada sessão: Jean François-Chougnet, diretor artístico do FUSO e diretor do MUCEM; Tom Van Vliet, fundador do World Wide Video Festival; Bernardette Caille, diretora editorial e curadora independente; e Lori Zippay, directora executiva da Electronic Arts Intermix (EUA).

As projeções realizam-se a partir das 17.00 e serão acompanhadas por um comentário de cada curador.

 

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