UMA FLOR ENTRE OS ESCOMBROS
Um exercício de escrita e visual por Miguel-Manso e João Manso
Escrever quando ainda não espaventou voz alguma. Decantar vestígios de sonho abeirando-se do dia, antes dele. Compor algo anfigúrico, suspenso entre mundos. Ser amplo, breve.
Uma Flor Entre Os Escombros é um exercício de escrita e visual, autoimposto, mas cujo enunciado (em epígrafe) se oferece à participação geral e abre a outras expressões como o desenho, a fotografia, a dança, a colagem, o vídeo, a recolha de som, etc.
Em texto e imagem, o poeta Miguel-Manso e o cineasta João Manso propõem-se desenvolver, separadamente e no decurso de um ano, um acervo conjunto de composições matutinas e quotidianas em texto e imagem que cumprem o mesmo cerimonial. O protocolo é simples e inclusivo: registar ao acordar, de forma breve e súbita, alguma coisa marejada pelo sonho, desancorada ainda do plano diurno e das suas narrativas de arestas maciças e forçosas. A anotação, pois, de um diário do que há antes do diário.
O que se fará pode ter um caráter aleatório e imprevisto ou, por outro lado, merecer alguma preparação de véspera (deixar o caderno aberto sobre a mesa, a folha na máquina de escrever, o tripé no lugar escolhido, o gravador pronto a carregar no play). Através do que será um texto curto — um disparar fotográfico, um plano rápido em vídeo, um registo sonoro —, colher a cada manhã o instante fugaz entre o adormecimento e o despertar, tão despidos quanto possível de maneirismos, convicções e demais vincos rotineiros. Verificar de que maneira, nessa circunstância, captamos o que nos rodeia e influimos na composição, que género de pescado vem à rede nessas primeiras águas da vigília.
Uma Flor Entre Os Escombros é a primeira Unidade de Trabalho de Escrita desenvolvida no âmbito da iniciativa Modo Diários e resulta do desafio lançado a Miguel-Manso pelo maat. Partindo da diarística enquanto forma de escrita, Modo Diários cria um campo de potencialidades interpretativas no contexto que lhe dá origem: o maat Mode 2020, que consiste num programa de exposições e atividades de natureza pública, experimental e participativa, sob o mote “Prototipar o museu”.
Miguel-Manso é poeta. Com obra publicada desde 2008, figura no catálogo de várias editoras e está representado num conjunto significativo de antologias e revistas literárias. Em cinema escreveu, produziu e realizou, com João Manso, a longa-metragem Bibliografia (2013). Colaborou em teatro com a companhia Cão Solteiro e a encenadora Susana Vidal. Desde 2008 que é convidado a participar como orador em festivais literários, palestras e leituras dentro e fora do país. O seu livro Persianas (Tinta-da-China, 2015) fez parte da shortlist dos prémios Sociedade Portuguesa de Autores, Glória de Sant’Anna, Pen Clube Português e Casino da Póvoa. O seu trabalho tem merecido atenção crítica nas principais publicações de referência nacionais.
Licenciado em Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia, João Manso trabalha desde 2007 como realizador, assistente de realização e editor de vídeo. Trabalhos seus marcaram presença em festivais de cinema nacionais e internacionais. Realizou em 2018 a curta-metragem documentário História Secreta da Aviação (Terratreme Filmes). Em 2013, em colaboração com Miguel-Manso, escreveu, produziu e realizou a longa-metragem documentário/ficção Bibliografia. Como assistente de realização em cinema trabalhou com vários realizadores, entre os quais Margarida Cardoso, Bruno de Almeida, Miguel Gomes, Pedro Pinho e João Canijo.
Permuta
Propõe-se que se viabilize a troca de composições entre os interessados em pôr em prática o enunciado e os autores de Uma Flor Entre Os Escombros. Mediante combinação (a realizar através das mensagens diretas do Instagram), os interessados poderão enviar por correio físico uma das suas composições, transposta para formato analógico, e receber em troca um original datilografado de uma das entradas publicadas no canal do Instagram.