PROGRAMA DE FILMES ART JAMEEL
Em parceria com o maat, Art Jameel apresenta uma série de trabalhos assentes em imagens em movimento e vídeo, com curadoria de Róisín Tapponi. O programa é uma resposta à instalação Tactile Cinema (2021) de Bricklab, que proporciona um espaço de múltiplas visualizações para cineastas e artistas visuais da região árabe.
Nove filmes, acompanhados por programas públicos, serão apresentados ao longo da exposição, abordando temas centrados em geografias humanas, gestão urbana e ambientes arquitetónicos. Os participantes incluem Ahmed Mater, Ahaad Alamoudi, Alaa Mansour, Sophia al Maria, Monira al Qadiri, Akram Zaatari, Alia Farid, Farah al Qasimi e Nadim Choufi.
De secas no deserto a paisagens urbanas de ficção científica, o programa mapeia uma geografia de contradições. A discórdia floresce numa região onde o nacionalismo falhou e onde a ficção científica é um veículo da verdade.
Em exibição: 5 abril – 26 maio 2021
Ahmed Mater
(n. 1979, Arábia Saudita)
Leaves Fall in All Seasons, 2014
Vídeo digital; 19 min 57 s
Coleção Art Jameel
Leaves Fall in All Seasons é um filme composto por filmagens captadas com um telemóvel por trabalhadores migrantes em estaleiros de obras na cidade de Meca e nos arredores, entre 2008 e 2013, um período em que se assistiu a grandes construções e a um redesenvolvimento da cidade. Os ficheiros foram transferidos para o telemóvel do artista por Bluetooth, tendo outros materiais sido retirados do YouTube.
Ahmed Mater documenta e examina as realidades da Arábia Saudita contemporânea. Com a elaboração de um mapeamento complexo e contínuo do Reino, a sua prática explora memórias coletivas com o objetivo de desvendar e registar histórias não-oficiais.
Ahaad Alamoudi
(n. 1991, Arábia Saudita)
HENGLi, 2020
Vídeo HD; 6 min 45 s
Em colaboração com Mengna Da
Cortesia da artista e da Galeria Athr, em Jidá
Este vídeo, filmado em frente ao escritório dos Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos, em Nova Iorque, discute noções de tradução e preservação. Esta colaboração entre a artista Ahaad Alamoudi e a curadora Mengna Da imagina um futuro no qual os humanos inventam a HENGLi, uma linguagem universal que pode ser compreendida por qualquer pessoa, destacando deste modo as dificuldades, atritos e tensões que ocorrem quando a informação é transformada através de diálogos e movimentos traduzidos.
Ahaad Alamoudi é uma artista que expande os limites da representação histórica da Arábia Saudita através do estudo da etnografia reformadora do país e da sua exibição nas obras que produz.
Alaa Mansour
(n. 1989, República Democrática do Congo)
Ainata, 2018
Vídeo digital; 63 min
Através do uso de arquivos e edição, Ainata desdobra-se numa exploração com várias camadas de micro-histórias, revelando uma narrativa dissonante de interpretações complexas relacionadas com símbolos de martírio e revolução. Ao escavar terras de resistência e libertação, o filme ensaístico oscila entre uma deriva onírica do imaginário e sinais perenes da ideologia e do conflito para desconstruir as narrativas históricas e políticas hegemónicas de guerra e vitória.
Alaa Mansour é uma artista, cineasta e arquivista libanesa cujo trabalho se concentra na história da violência e no poder das imagens na era da necropolítica.
Em exibição: 27 maio – 17 julho 2021
Sophia Al-Maria
(n. 1983, EUA)
The Future Was Desert Part 1, 2016
Vídeo HD; 5 min 17 s
Neste filme, a viajante no tempo SFW (Sci-fi Wahabi), alter-ego da artista, faz peregrinações a petróglifos no deserto e a outros locais com presença humana antiga na Namíbia, Omã e Austrália para construir uma narrativa visual da desertificação do planeta. A partir de arquivos de expedições arqueológicas e antropológicas, o filme propõe uma disjunção entre a escala histórica do tempo humano e a vastidão das épocas geológicas.
Sophia Al-Maria é uma artista, escritora e cineasta de ascendência americana e catari cujos interesses incluem o Futurismo do Golfo, o consumismo, a tecnologia, o Islão reacionário, o apagamento histórico e a abordagem ofuscante de um futuro para o qual ninguém está preparado.
Monira al Qadiri
(n. 1983, Senegal)
Behind the Sun, 2013
Vídeo HD
10 min
Realizado com o apoio do Centro de Artes de Beirute
Coleção Art Jameel
Durante a Primeira Guerra do Golfo em 1991, inúmeros campos petrolíferos no Kuwait foram incendiados pelas tropas iraquianas em retirada num derradeiro ato de provocação. Ao reexaminar esta paisagem distópica a partir da sua própria memória, a artista reafirma a sua relevância contínua ao justapor imagens de vídeo em VHS dos incêndios nos poços de petróleo com monólogos de áudio de programas de televisão islâmicos daquela época. As representações de Deus por parte destes últimos através de milagres naturais convertem-se em novos imaginários extremos que se assemelham a um retrato transformador do “fim do mundo”.
Monira Al Qadiri é uma artista kuwaitiana nascida no Senegal e educada no Japão. A sua obra explora identidades de género não-convencionais, as petroculturas e os seus possíveis futuros, assim como os legados de corrupção.
Akram Zaatari
(n. 1966, Líbano)
Al-Houbut, 2019
Vídeo digital; 60 min
Quer habitem o deserto ou estejam nele perdidos, os três homens em Al-Houbut veem-se confrontados com as ruínas dos tempos modernos. Eles são exploradores de tempos passados ou atores-intérpretes num sítio arquitetónico existente cujos encontros, movimentos e avaliações de localização tomam a forma de uma sonoridade acústica do espaço. O filme foi rodado em Shaabiyat al Ghurayfah, um projeto habitacional público hoje deserto, construído na década de 1980 em Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, para providenciar aos descendentes dos beduínos Ketbi as suas primeiras casas modernas.
O artista libanês Akram Zaatari tem produzido filmes e vídeos que partilham um interesse pela escrita de histórias e práticas relacionadas com a escavação, a resistência política, as vidas de ex-militantes, o legado de uma esquerda exausta e a circulação de imagens em tempos de guerra.
Em exibição: 18 julho – 6 setembro 2021
Alia Farid
(n. 1985, Kuwait)
At the Time of the Ebb, 2019
HD H.264 video; 15 min 43 s
Para At the Time of the Ebb, Alia Farid viajou 100 quilómetros náuticos da ponta mais oriental da Península Arábica até à ilha iraniana de Qeshm para filmar a celebração anual de Nowruz Sayadeen (ou “Ano Novo do Pescador”). A obra coloca em primeiro plano vários residentes locais cujas atuações chamam a atenção pelos seus costumes, tradições, cenário material e ambiente natural – de um interior doméstico brilhantemente decorado a uma ampla paisagem marítima com vista para o Golfo Pérsico.
Através de vídeos, desenhos, instalações e intervenções públicas, a artista Alia Farid explora a vida urbana contemporânea, tendo muitas vezes como pano de fundo as complexas histórias coloniais do Kuwait e de Porto Rico, os seus dois países de origem.
Farah al Qasimi
(n. 1991, Emirados Árabes Unidos)
Mother of Fire, 2019
Vídeo digital; 43 min
Mother of Fire oferece um retrato irónico de um jinn (ou génio) com origem em Ras Al Khaimah, outrora uma importante potência regional, mas hoje em dia um dos menores e menos desenvolvidos emirados dos Emirados Árabes Unidos. O génio, Um Al Naar de seu nome, narra a sua história ao estilo de um confessionário de reality show, recontando a história da colonização da região e lamentando a sua relevância cada vez menor à medida que a modernização vertiginosa do país desinfeta e volta a embalar as suas tradições para serem facilmente consumidas como “património” nos museus de estilo ocidental da região. O filme é intercalado com imagens de locais assombrados, relatos anedóticos de encontros com génios e entrevistas com um exorcista, e questiona o que é real, se é que existe algo que o seja.
Farah Al Qasimi é uma artista visual dos Emirados Árabes Unidos, mais conhecida pelas suas fotos da vida no Golfo Pérsico.
Nadim Choufi
(n. 1994, Emirados Árabes Unidos)
The Sky Oscillates Between Eternity and Its Immediate Consequences, 2021
Vídeo HD; 18 min
Coleção Art Jameel, encomendado em 2020
Este filme de ficção científica, passado numa colónia espacial na Terra, explora o modo como o futuro das cidades inteligentes depende da promessa de sistemas fechados “sustentáveis” perante crises ecológicas e de saúde. Os dois protagonistas narram a forma como o controlo e a exploração dos ciclos de vida ambientais e organismos se tornam um modelo para concretizar estas visões futurísticas. Este filme recebeu a mais alta distinção no âmbito do concurso público para a Art Jameel Commissions: Digital em 2020.
Nadim Choufi é um artista visual dos Emirados Árabes Unidos cujos vídeos e instalações baseiam-se na ficção científica, biologia sintética, economia e outras áreas para examinar a presumida objetividade do progresso científico e as suas realidades objetivas e subjetivas.
Róisín Tapponi é uma curadora e programadora de cinema de ascendência irlandesa e iraquiana e fundadora do Habibi Collective. Tapponi foi diretora de muitos festivais de cinema, incluindo o IIFF – Festival de Cinema Independente do Iraque – e, mais recentemente, foi curadora de uma série de imagens em movimento no Museum of Modern Art, New York, em 2021. É também presidente do Shasha, o primeiro serviço de streaming independente para o cinema do Médio Oriente e Norte de África (MENA), e da ART WORK Magazine. Foi professora de cinema na Universidade de Oxford, na Universidade Northwestern e noutras escolas.
Art Jameel é uma organização artística independente que apoia artistas e promove o papel das artes na construção de comunidades abertas e interligadas. O Jameel Arts Centre, conhecido como o museu de arte contemporânea do Dubai, foi inaugurado em 2018. No outono de 2021, será inaugurado o Hayy Jameel, Jeddah – um complexo cultural de grandes dimensões concebido especificamente para incluir o Hayy Cinema, o primeiro centro de produção cinematográfica e audiovisual independente da Arábia Saudita, projetado pelo estúdio Bricklab.