O título da exposição concebida por Pedro Tudela para a Sala das Caldeiras da Central Tejo é awdiˈtɔrju – trata-se da transcrição fonética da palavra auditório. Logo nesta passagem de uma convenção linguística apesar de tudo pouco conhecida da população em geral, cria-se um momento de estranheza inicial que aponta precisamente para o deslizar percetivo que a sua obra reclama do espetador. Todo o espaço da Sala das Caldeiras foi transformado em palco de uma experiência imersiva que conjugou uma peça de som acompanhada de três momentos em que uma escultura e duas instalações habitam o espaço, numa coreografia meticulosamente desenhada a partir de elementos como um sino (fabricado especificamente para este contexto) suspenso, num equilíbrio instável com asas tombadas no chão, sete campânulas que gotejam para outros tantos buracos negros e um corredor de luz protegido por telhas transparentes.
A ideia de trabalhar um espaço como a Sala das Caldeiras da Central Tejo, desconstruindo a sua condição de catedral da modernidade, através de elementos desestabilizadores do paradigma dessa modernidade nas artes visuais (a respetiva autonomia disciplinar), como a luz e o som enquanto material de desmaterialização do objeto artístico, é traduzida por Pedro Tutela (n. 1962) numa experiência única que parte paralelamente desta utilização dos sinos e das campânulas como alegoria que nos alerta para as condições em que atualmente habitamos o meio ambiente e para o modo como abusamos dele.