A 16 de setembro de 1964, Mário Cesariny dá entrada na Prisão de Fresnes, a sul de Paris, acusado de «atentado ao pudor». Os dois meses de clausura e as razões que terão levado à sua detenção permanecem envoltos em argumentos controversos e contraditórios. Na realidade, para além da sua intensa dedicação a um pequeno livro composto por uma série de relatos confessionais, desenhos e poemas-colagens, pouco se sabe sobre esse período.
Ama como a estrada começa foi um projeto produzido especialmente para o maat. A primeira grande apresentação de João Pedro Vale (n. 1976) e Nuno Alexandre Ferreira (n. 1973) num museu, a exposição apropria o título de um poema-colagem criado por Cesariny em 1955 e articula inúmeras referências gráficas, culturais e artísticas ao legado surrealista e em particular às referências do poeta português, mas também aos primeiros movimentos políticos queer e de libertação sexual.
A dupla justapôs uma amálgama de objetos e imagens na composição de uma instalação com dois andares; uma estrutura que se assemelha a uma grande colagem ou assemblagem surrealista que evoca os espaços de engate da comunidade gay, mas também traz à memória as infraestruturas e equipamentos de higiene pública e sanitária, lavadouros ou celas e outros elementos da vida prisional.
A exposição integrou ainda uma série de performances, concebidas em parceria com o coreógrafo João dos Santos Martins, que aconteceram de forma espontânea e sem aviso prévio — vivências e ações corporais que ativam o espaço e os seus objetos, adicionando novas camadas de significados e sentidos num processo de construção permanente e em contínua transformação.