O projeto Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios começou a estruturar-se no decurso de uma pesquisa que Edgar Martins desenvolveu no Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, em Lisboa e Coimbra. Ao longo de três anos, o artista realizou mais de 1 000 fotografias e digitalizou mais de 3 000 negativos do vasto e extraordinário espólio do INMLCF. Uma parte significativa destas imagens representa provas forenses, nomeadamente armas e objetos usados em crimes e suicídios, mas também locais de crime, máscaras fúnebres, projéteis, cartas de suicidas e atividades inerentes ao trabalho do médico-legista. Porém, a par destas fotografias, Edgar Martins (n. 1977) começou também a recuperar imagens do seu arquivo ou a produzir novas fotografias sobre outros assuntos, pensadas como contraponto visual, narrativo e conceptual.
Deste modo, o tema da morte é aqui explorado através de uma articulação produtiva entre registos documentais e factuais e imagens que procuram incitar o potencial especulativo, ficcional e imaginário em torno do tema. Neste sentido, Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios é um trabalho que se propõe a perscrutar as tensões e as contradições inerentes à representação e imaginação da morte, em especial da morte violenta, e correlativamente sobre o papel decisivo (mas profundamente paradoxal) que a fotografia – nas suas implicações epistemológicas, estéticas e éticas – tem exercido na sua perceção e inteligibilidade.
Depois de projetos em que sobressaía a homogeneidade formal e uma maior incidência de temáticas em torno da tecnologia, da arquitetura, da paisagem e da noção de lugar, este trabalho marca uma transição na trajetória criativa de Edgar Martins. Para a exposição, ele recorreu a um conjunto vasto e diversificado de tipos e processos visuais – fotografias, apropriações, projeções, instalação, texto – assinalando uma crescente inclinação por uma perspectiva mais híbrida e expandida da prática da fotografia e da experiência das imagens.