Aquaria – Ou a Ilusão de Um Mar Fechado é uma exposição que olha para a forma como o oceano entrou nas nossas cidades, nas nossas casas ou nas nossas instituições culturais, e que questiona o processo de interiorização do reino dos oceanos.
Inventado na época vitoriana, o aquário enquanto objeto materializa a divisão natureza/cultura, e continua a representar o oceano num diorama, um mundo contido em si e uma assemblage tecno-natural, albergando uma coleção viva que espelha o nosso próprio mundo marinho, pessoal, mas fictício.
Após meses de confinamento em nossas casas, estamos também, em certa medida, a flutuar metaforicamente dentro dos nossos próprios aquários tecnológicos isolados: a nossa existência no aquário, agora leva a comparações com a dimensão aquática artificial, questionando novamente a nossa relação geocêntrica com a esfera oceânica.
Assim, o aquário – quer seja o objeto doméstico ou o local público – é concebido, aqui, como o objeto conceptual que nos permite expor os mecanismos hierárquicos que têm sustentado a nossa cultura de vida fora da natureza: como devemos interferir neste processo de criação de um mundo que decorre quando a nossa visão se limita àquilo que vemos?
"A cultura do design emerge aqui como aquela prática crítica que questiona as nossas formas convencionais de habitar e viver o mundo, implementada exclusivamente com base no controlo humano, na extração de recursos e na exploração de outros seres vivos. Dado que 98% dos peixes ornamentais são ainda apanhados na natureza, o aquário – como máquina de desejo – contém-nos a todos, conceptualmente. Ao refletir sobre as novas questões que qualquer reformulação da nossa relação com o mundo marinho poderá vir a confrontar, a exposição é organizada desde a escala microscópica até à transoceânica, e o percurso desvenda-se através de onze trabalhos novos e revistos que, insistindo na reiteração da imagem bidimensional e do ecrã – que faz alusão à mediação bidirecional da ligação/separação imposta pelas paredes de vidro dos aquários – oferecem pontos de vista específicos para revelar aspetos que geralmente permanecem ocultos da nossa visão ou mesmo da nossa imaginação. " – Angela Rui, curadora de Aquaria.
Como parte da exposição, foi encomendado um filme a Armin Linke, intitulado Oceanarium e realizado nos bastidores do Oceanário de Lisboa, que examina a multidimensionalidade da arquitetura aquática, na qual as maravilhas da natureza são exibidas através de tecnologia escondida e bem orquestrada.
A documentação histórica apresentada na exposição, desde meados do século XIX até aos nossos dias, entra em diálogo com as obras contemporâneas, contextualizando posições de base ocidental sobre políticas institucionais, exibição naturalista, ligações com as grandes Exposições Universais, expedições científicas e atividades coloniais e extrativas em relação a outras geografias.
O design expositivo é da autoria do estúdio 2050+, de Ippolito Pestellini Laparelli. Ocupando uma área de cerca de 800 m2, o layout reflete as noções de interface e limiar mostrando duas categorias de dispositivos espaciais: um sistema industrial de exposições para acomodar o material de investigação e uma sequência fluída de espaços para orquestrar as instalações dos artistas.
A identidade visual da exposição é da autoria do studio òbelo e visa inquietar o olhar do espectador, despertando uma consciência autorreflexiva das ambiguidades da perceção. O aquário é conceptualizado numa série de cubos impossíveis baseados na figura do Cubo de Necker (1832).
Um programa público relevante incluirá uma colaboração especial com a TBA12–Academy (Thyssen-Bornemisza Art Contemporary), pioneira em programas de investigação acerca do tema dos oceanos e suas vulnerabilidades com uma abordagem interdisciplinar. O programa realizar-se-á em junho de 2021, no maat e online.
A exposição inaugura o programa maat Explorations, uma iniciativa que inclui exposições, programas públicos e laboratórios, e que se dedica a abordar os enredos da ciência ambiental, do conhecimento tecnológico e dos estudos humanos com as visões e investigação extraídas dos campos do design e das artes visuais, numa extensão interdisciplinar.
Com projetos de Revital Cohen & Tuur Van Balen, Julien Creuzet, Simon Denny, Marjolijn Dijckman & Toril Johannessen, Michela de Mattei, Alice dos Reis, Eva Jack, Joan Jonas, Armin Linke, Superflex e Stef Veldhuis.
Exposição
Curadora: Angela Rui
Design de exposição: 2050+ (Ippolito Pestellini Laparelli, Massimo Tenan, Guglielmo Campeggi)
Design gráfico: òbelo (Claude Marzotto, Maia Sambonet)
Apoio à investigação e arquivo: Martina Motta
Apoio na investigação local: Marta Jecu
Com o apoio de:
ifa – Institut für Auslandsbeziehungen
Istituto Italiano di Cultura di Lisbona
Goethe-Institut Portugal
Comissão especial de Armin Linke desenvolvida com o apoio científico de:
Oceanário de Lisboa / Fundação Oceano Azul
Materiais de arquivo:
Biblioteca del Museo di Storia Naturale di Milano, Biblioteca Sormani – Milano, Historical Diving Society Italia, Biblioteca Central de Marinha – Lisboa, Museu de Marinha – Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Aquário Vasco da Gama – Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Municipal de Oeiras