Interseções são lugares onde coisas acontecem, onde pessoas se cruzam, se encontram e onde estão disponíveis para partilhar, repartir bens, trocar ideias e se reorientar. As interseções também oferecem momentos de contemplação antes da tomada de decisões e de oportunidades para uma mudança de rumo. São, por definição, situações criativas.
Durante os últimos trinta anos, a obra de Ângela Ferreira (n. 1958) tem, frequentemente, abordado interseções, nomeadamente aquelas em que uma “pura” e “perfeita” modernidade se cruza com o híbrido e o ambivalente. Pan African Unity Mural, o novo trabalho de Ângela Ferreira para o Project Room, foi concebido, retrospetiva e introspetivamente, para o “aqui” e o “agora”. Além da sua própria trajetória – Ferreira nasceu e cresceu em Moçambique durante o período colonial e socializou-se política e artisticamente na África do Sul do apartheid –, outras histórias biográficas são simultaneamente narradas, expostas e escondidas neste trabalho. Em tempo de crise da crítica, Ferreira renegoceia “velhas histórias”, incluindo as suas próprias, à luz da necessidade urgente de novas perguntas e respostas