White Blind Spot
Um programa público de dois dias com a curadoria de Maribel Sobreira e Gabriela Salazar
A cidade que habito também me habita, WHITEBLINDSPOT é um programa de dois dias para virar imagens, tempo, certezas e narrativas urbanas de cabeça para o ar.
WHITE BLIND SPOT é um workshop que questiona as narrativas coloniais na cidade de Lisboa, invocando o lado escondido e o silenciamento de outros corpos e formas de viver. Usaremos um dispositivo de imagem invertida para, em conjunto, construirmos ferramentas que nos permitam uma leitura mais equilibrada da constituição do espaço público. Como é que a nossa narrativa individual e coletiva se tocam? Em conjunto vamos virar o mundo e os nossos pontos cegos do avesso.
Nos diversos movimentos de empoderamento social interseccionais, que incluem tanto movimentos antirracistas como feministas ou LGBTQ+, observamos uma forte resistência dos sujeitos privilegiados e normativos altamentes desafiantes que, numa tentativa de manutenção da narrativa instituída, desvaloriza a experiência do outro.
Esta atividade foca-se neste lugar de atrito onde as duas perspetivas estão em tensão, abrindo o espaço para uma consciência alargada dos elementos constituintes de uma cidade, seja ela global ou local, mostrando que não são neutros.
Programa completo
17/09/2021
18h00 – 19h30
Conversa aberta ao público
Conversa entre Anne Kockelkorn, Ana Rita Alves e Ana Sophie Salazar, onde falaremos sobre o acesso ao espaço público e de como os mecanismos tanto económicos como percetivos construíram o cânone da arquitetura, excluindo e apagando outras narrativas que influenciam a forma como vemos e sentimos o espaço público.
18/09/2021
15h00 – 18h00
Workshop
Utilizaremos filmagens de uma câmara escura ambulante, papel, canetas e linhas temporais, para em conjunto desmontarmos ideias e perspetivas que nos foram transmitidas pela cidade e como a nossa história individual e memória do lugar é influenciada pela narrativa política inscrita nas ruas que habitamos.
Vamos suspender as nossas certezas e colocá-las de pernas para o ar para descobrir o “ângulo morto” que elas escondem. Já te perguntaste porque gostas tanto de uma rua, de uma estátua ou de um jardim? Que espaços contêm o nosso afeto? São memórias de infância? Lições de história? Este é um convite para vermos qual a cidade que também nos habita.
Biografias
Ana Sophie Salazar (1990) é curadora, escritora e cofundadora do Museum for the Displaced, uma parainstituição cultural e social que aborda temas em torno da migração forçada, deslocamento e apatridia. Através de explorações não disciplinadas de subjetividades nómadas, multilinguísticas e transculturais, o seu trabalho propõe formas inventivas de questionar mapeamentos geopolíticos atuais. De 2016 a 2020, foi Curadora Assistente de Exposições no NTU Centre for Contemporary Art Singapore. Possui um mestrado em Práticas Curatoriais da School of Visual Arts, Nova Iorque, e uma licenciatura em Piano da Escola Superior de Música de Lisboa. Participou no Shanghai Curators Lab (2018), no programa de mentoria Project Anywhere (2020-21), e é atualmente curadora-em-residência (2021-22) no Künstlerhaus Schloss Balmoral, Alemanha.
Maribel Mendes Sobreira é arquiteta, curadora e investigadora, mestre em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), doutoranda em Filosofia na FLUL na área da Estética e Filosofia da Arte, foi bolseira FCT de 2016 a 2020. É membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (CFUL) e da ISPA (International Society for the Philosophy of Architecture). Concebe e orienta atividades de sensibilização para as artes e arquitetura, colaborando a este nível com o Museu Coleção Berardo e o maat. Iniciou a sua prática curatorial em 2019 com o projeto ARQUIVO EXQUIS e é cofundadora do ColectivoFACA – um projeto de curadoria e cidadania ativa que questiona as narrativas da cultura visual, não apagando a história e cruzando as diversas narrativas. Tem publicado artigos sobre arquitetura, património urbano e teoria da arte, entre os quais se destacam: “Relation of Architecture and Philosophy in the tragedy of culture” (2018) e “Tempo do informe” (2020).
Gabriela Salazar é arquiteta e investigadora equatoriana e portuguesa, cofundadora e diretora do atelier Frame Colectivo. Diplomada pela Universidade Técnica de Berlim, Alemanha (2011), com foco na teoria da arquitetura, assim como arquitetura social e sustentável. Em 2013, criou o Frame Colectivo com Agapi Dimitriadou. A arte e a ciência influenciam a sua prática, que explora intervenções urbanas e desenho colaborativo para criar novos sistemas de representação e negociação do urbano. Fala cinco línguas, espanhol como língua materna, inglês avançado, alemão avançado, português avançado e francês fluente. Joga futebol regularmente e é defensora da manutenção de espaços seguros para a comunidade LGBTQPIA+.
Ana Rita Alves é antropóloga e doutoranda no Centro de Estudos Sociais (CES-UC). Foi bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e, mais recentemente, uma das 2020-2021 Black Studies Dissertation Scholar da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. O seu trabalho centra-se na análise crítica da interseção entre racismo institucional, território e habitação, materializando-se, até ao momento, num conjunto de publicações, comunicações e colaborações. Integrou a equipa de diversos projetos de investigação, entre os quais “‘Raça’ e África em Portugal: um estudo sobre manuais escolares de História” (FCT, 2010-2011), “O combate ao racismo em Portugal: uma análise de políticas públicas e legislação antidiscriminação” (FCT, 2016-2020) e “Afrodescendência em Portugal: sociabilidades, representações e dinâmicas sociopolíticas e culturais. Um estudo na Área Metropolitana de Lisboa” (FCT, 2019-2021). É cofundadora do “CHÃO - Oficina de Etnografia Urbana” que, em conjunto com a Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, tem desenvolvido uma cartografia social e aulas de alfabetização e português língua não materna no bairro da Jamaika. Tem colaborado, em solidariedade, com coletivos e moradores de bairros autoproduzidos e de realojamento, repositórios, por excelência, da violência institucional.
Anne Kockelkorn é uma historiadora de arquitetura que se tem focado nas interseções entre design, política territorial e processos de subjetivação. A sua próxima monografia The Social Condenser II investiga a representação e produção de grandes complexos habitacionais em França, antes e depois das reformas neoliberais de 1977, pela qual ganhou a Medalha de Prata ETH para uma tese de doutoramento de destaque, em 2018. Atualmente é professora assistente de Habitação na TU Delft; anteriormente foi codiretora do programa MAS em História e Teoria da Arquitectura na ETH Zurich. O seu livro mais recente é Productive Universals-Specific Situations. Critical Engagements in Art, Architecture, and Urbanism (Berlim: Sternberg Press, 2019, coeditado com Nina Zschocke).