A instalação S.O.S. de Maria Loura Estevão toma como ponto de partida o poema homérico Odisseia – e em particular a passagem em que Ulisses e seus companheiros atravessam o território das sereias – para tematizar a poluição sonora do ambiente subaquático e a passagem marítima de migrantes e refugiados pelo Mediterrâneo.
O som é o elemento central da instalação e este estende-se nas dimensões do duplo significado da palavra francesa “sirènes” – que significa sereias e também sirenes – unido no papel que a artista atribui às sereias da Odisseia como sendo as primeiras ecofeministas que fazem soar o alerta. O som, aqui, tem o significado de um alarme.
A instalação apresenta sons subaquáticos – sons de peixes – do estuário do Tejo e imagens concebidas a partir da sonda acústica passiva. Quatro teremins (Theremini Moog), instrumentos musicais que, nesta instalação, representam as sereias/sirenes que ressoam quando um corpo atravessa o campo eletromagnético, aparecem pendurados no teto de refletindo os pontos cardeais. Quatro embarcações insufláveis (recuperadas) aparecem colocadas nas colunas de som que permitem sentir as ondas sonoras transmitidas através do ar.
Maria Loura Estevão (Torrão do Alentejo, 1960) emigrou aos nove anos para Le Havre, França. Frequentou o Ar.Co – Centro de Arte & Comunicação Visual e a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Em 1991, licenciou-se na Ecole Supérieure d'art et de Design Le Havre-Rouen e na UFR Arts, Philosophie, Esthétique – Université Paris 8, Saint-Denis. Em 1995, concluiu o mestrado no Goldsmiths – University of London. Do seu percurso artístico destacam-se as exposições individuais Élevée(s) en galerie (Galerie Duchamp centre d’art contemporain, Yvetot, 2013), Dis moi ce que tu manges et je te dirai qui je suis (Le Parvis centre d’art contemporain, Ibos, 2007) e Femme qui court (VidéoK. 01, Le Parvis centre d’art contemporain, Pau, 2007), a participação na exposição coletiva Lá Fora – Artistas Portugueses (Edifício Fernando Távora, Viana do Castelo, 2008, Museu da Electricidade, Lisboa, 2009), e ainda a monografia Maria Loura Estevão, com textos de Evelyne Toussaint e Pierre Giquel (VidéoK. 01, Le Parvis centre d’art contemporain, Pau, 2008). Em 2020, começou a explorar os sons provocados pelo movimento do corpo num campo magnético, graças ao primeiro instrumento elétrico inventado em 1920 por Leon Theremin.