LEVA LEVA
Ladainha de pescadores
Com o seu novo projeto centrado nas canções dos pescadores em Portugal, a plataforma FLEE tenta aliar uma investigação antropológica aprofundada a uma reflexão contemporânea híbrida e artística sobre uma faceta importante da história social e cultural portuguesa.
Através de canções de trabalho das décadas de 1940, 60 e 80 gravadas na região do Algarve, o projeto tenta documentar a história destes pescadores, a natureza das suas dificuldades e condições frequentemente exploradoras, bem como o seu encontro gradual com importantes mudanças económicas e políticas que afetaram o país nos anos de 1970.
Mais do que observar os pescadores diretamente, o projeto também investiga o nascimento da etnomusicologia no país através do trabalho do etnomusicólogo francês Michel Giacometti, num período em que o país começou gradualmente a “descobrir-se a si próprio” e às suas culturas regionais de uma forma reflexiva.
Para realizar este ambicioso trabalho, o coletivo publicará um livro e lançará um LP, o qual apresentará gravações originais de arquivos de canções de pescadores, bem como versões revisitadas por artistas e produtores musicais contemporâneos. Paralelamente, o livro incluirá vários ensaios, entrevistas, fotografias de arquivo, assim como duas comissões de arte, olhando para os pescadores em Portugal através de uma perspetiva original. Este objeto particular será acompanhado de uma série de palestras, atuações e uma instalação apresentadas pelo maat.
13/07–31/07/2022: Instalação "Esforço Lúdico"
15/07/2022: Lançamento de publicação e conversa. Saber mais
16/07/2022: Concerto. Saber mais
Este programa é desenvolvido por FLEE com o apoio do Instituto Francês de Portugal.
Esforço Lúdico
Instalação de Alan Strani
Durante séculos, a economia da região portuguesa do Algarve dependia da pesca. Numa cidade como Portimão, a maioria dos homens vendia a sua força de trabalho como pescadores em perigosos arrastões por uma ninharia, ao passo que as mulheres eram exploradas em fábricas de conservas de peixe, sem grandes direitos. Neste contexto, a matriz cultural da sociedade gravitava frequentemente em torno do esforço físico e do sofrimento. Com o aparecimento do turismo de massas no final dos anos 70, a região costeira do Algarve mudou abruptamente, e cidades como Portimão viram emergir rapidamente uma economia completamente nova: a indústria de serviços. Nas águas oceânicas, os pescadores que puxavam as suas redes foram rapidamente substituídos por turistas a realizar grandes sessões de grupo de hidroginástica.
Explorando a noção de memória coletiva, o Esforço Lúdico convida os participantes de uma sessão de hidroginástica em Portimão a criar uma coreografia sobre canções de trabalho de pescadores gravadas num barco em 1962 pelo etnomusicólogo Michel Giacometti. Numa região onde o sofrimento tem sido a força motriz da economia durante anos, a instalação de Alan Strani questiona: o que acontece quando, em poucos anos, o entretenimento generalizado ganha terreno através do turismo de massas? Como pode a noção de esforço ser concebida como uma atividade lúdica escolhida, quando há anos que é uma ação suportada? Esta é a anomalia que este trabalho transmedia tenta explorar.
Fundada por Alan Marzo, Olivier Duport e Carl Åhnebrink, FLEE é uma plataforma curatorial e artística independente dedicada à documentação e valorização de culturas híbridas. Como prática interdisciplinar, a entidade opera como editora discográfica, editora de livros e produtora de exposições. Explorando de forma criativa e enfatizando os contornos da globalização numa perspetiva histórica, a FLEE concentra-se em esclarecer fenómenos culturais selecionados subjetivamente, fazendo-os, ao mesmo tempo, interagir com abordagens artísticas contemporâneas.
Navegando entre diferentes meios de expressão, a prática de Alan Strani cristaliza-se em torno de obras de natureza transdisciplinar, transmedia e coletiva. Defendendo uma abordagem fluida, onde a essência da mensagem é favorecida em relação ao meio selecionado, o artista italo-suíço gosta de usar o poder simbólico e evocativo de diferentes materiais e ambientes, por exemplo, colocando esculturas em movimento através de um dispositivo cartográfico audiovisual. Explorando diferentes temas como a memória coletiva ou as relações interpessoais na era digital, este artesão multimédia estabelecido em Paris também se expressa através da produção de instalações, assim como de música e vídeos.