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SERES VULNERÁVEIS. TUNING IN
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29/10/2021 - 31/10/2021
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Seres Vulneráveis

Assembleia pública sobre o espaço e o tempo das epidemias, por Andrea Bagnato e Ivan L. Munuera

Somos Seres Vulneráveis, e o reconhecimento desta vulnerabilidade constitui uma via para a existência de formas diferentes com outros seres humanos, não-humanos e ambientes. Num programa público organizado por Andrea Bagnato e Ivan L. Munuera, uma vasta gama de convidados reunir-se-á para contextualizar as transformações materiais, políticas e performativas destacadas pela atual pandemia. Assumindo a forma de duas assembleias, o programa irá imaginar novos espaços de ação e solidariedade através da arte e da arquitetura.

Assembleia I: Tuning In 
29/10 a 31/10/2021

Tuning In assume-se como uma assembleia onde os espectadores se podem envolver no emaranhado das nossas realidades, marcadas por processos de cura e de cuidado, de exclusão e segregação, e por alternativas e possibilidades. As palestras, debates, performances, projeções de filmes e intervenções sonoras desta assembleia formulam várias questões: Quais os corpos que importam nos mapas geopolíticos mais amplos? Como confrontar as noções modernas de classificação e de governabilidade? Que afinidades se estabelecem na partilha de ativismos? Como se forma o conhecimento médico? Qual o significado do trabalho e da domesticidade nos dias de hoje? Como usar a memória enquanto ferramenta útil aos processos ativistas? Ao longo de três dias, esta sessão sintonizará as vozes de Vivian Caccuri, Panagiota Kotsila, Carlo Caduff, Meika Wolf, Tomaso de Luca, Francesco Urbano Ragazzi, Dan Glass, Teresa Fabião, Anjuli Raza Kolb, Marina Otero Verzier, Rachaporn Choochuey, Sofia Gallisa Muriente e Cruz Garcia.
    

Programa

Sexta-feira, 29/10/2021

16.30–17.00
Abertura
Com os curadores Andrea Bagnato e Ivan L. Munuera e Beatrice Leanza, diretora executiva do maat 
    
17.00–18.00    
The New World Syrup and the Fever Hand 
Leitura performativa por Vivian Caccuri*
A febre-amarela introduziu-se nas Américas no século XVII, através dos navios usados pelos comerciantes europeus para transportar escravos africanos. A ecologia das plantações coloniais de açúcar nas Caraíbas e no Nordeste brasileiro fez alastrar a doença, uma vez que o corte de florestas criou um habitat favorável aos mosquitos Aedes, transmissores do vírus. Apesar de aparentemente controlada com campanhas de saúde pública, a febre-amarela regressou ao Brasil em 2018 – possivelmente em resultado da atual desflorestação da Amazónia. Foi também em 2018 que Jair Bolsonaro foi eleito presidente, e que as preocupações epidemiológicas foram absorvidas pela agenda política nacionalista.
    
18.00–19.00
Fado Bicha
Sound Performance 

Sábado, 30/10/2021

10.30–12.00
Vulnerable Visions [Perspetivas Vulneráveis]
Painel de discussão com Panagiota Kotsila e Carlo Caduff*, moderação de Andrea Bagnato
Em 2009 foram detetados 51 casos de malária na Grécia – trinta e cinco anos passados sobre a suposta erradicação da doença. Trata-se de uma consequência não apenas das brutais políticas de austeridade que drenaram os recursos da saúde pública, mas também da racialização dos trabalhadores imigrantes, cujo trabalho agrícola em condições de exploração os expôs à doença. Apenas alguns anos antes, em 2005, os Estados Unidos assistiram a alertas e preparativos em grande escala para uma pandemia de gripe H5N1, com origem em explorações avícolas – uma ameaça que não se concretizou. As epidemias podem ser praticamente ignoradas quando envolvem corpos considerados descartáveis – ou desencadear o célere investimento em planos de preparação quando ameaçam atingir o corpo da nação. O conhecimento científico, os protocolos e as narrativas atuam de forma diferenciada, dependendo de quem é classificado, ou do que é classificado, como vulnerável.

12.00–13.00
Vulnerable Borders [Fronteiras Vulneráveis]
Palestra por Meike Wolf
O mosquito Aedes albopictus, ou mosquito-tigre-asiático, é uma espécie peculiar: é capaz de transmitir várias doenças graves, incluindo a dengue, a febre-amarela e o vírus Zika. Presente há muito no Sudeste Asiático, a espécie alastrou aos Estados Unidos e à Europa mediterrânica na década de 1980, escondendo-se nas fendas do comércio mundial – desde os pneus usados às plantas de bambu para uso doméstico. As medidas de controlo do mosquito-tigre têm falhado sistematicamente, e prevê-se que o seu habitat continue a expandir-se com o aquecimento global. O mosquito Aedes desafia os regimes fronteiriços e põe em causa as classificações de “nativo” e “invasor”. Acima de tudo, exige que encontremos novas maneiras de pensar as espécies de vetores e os agentes patogénicos, indo além dos conceitos modernos de classificação, território e governação.

13.00–14.30
Intervalo/Pausa

14.30–15.30
Projeção de filme: Tomaso de Luca, A Week’s Notice, 2020 (60 min.)
Criado durante a pandemia de COVID-19, A Week’s Notice gira em torno da relação entre arquitetura, gentrificação e a epidemia de SIDA dos anos 1980. Trata-se de uma ode à arquitetura queer, de uma tentativa de recuperar o espaço público e doméstico obliterado pelo progresso. Em exposição estão 25 miniaturas arquitetónicas inspiradas na cultura popular (desde Buster Keaton a O Feiticeiro de Oz), em obras-primas da arquitetura célebres (desde Mies van der Rohe a Le Corbusier) e nos corredores, casas-de-banho públicas e estúdios anónimos onde o artista viveu. Inspirando-se no registo de comédia slapstick, as 25 miniaturas movem-se, implodem, levitam, tremem, voam, abrem e fecham, acendem-se e apagam-se, num desastrado repertório de acidentes domésticos. A Week’s Notice ganhou o MAXXI Bvlgari Prize 2020. Concebido originalmente como uma instalação-vídeo de três canais, é aqui exibido pela primeira vez em canal único.

15.30–16.30
Vulnerable Dwelling [Habitação Vulnerável]     
Live chat com Tomaso de Luca e Francesco Urbano Ragazzi
“A doença”, escreve Francesco Urbano Ragazzi, “é novamente o agente oculto que restabelece a desordem, a força arcaica que mostra a vulnerabilidade do mundo mas também, e sobretudo, a sua espantosa resistência”. São Francisco foi notoriamente uma das primeiras cidades a ser afetada pela epidemia de VIH/SIDA, tendo os primeiros casos de sarcoma de Kaposi ali sido diagnosticados a partir de 1980. Nos anos seguintes, a cidade assistiu a uma verdadeira onda de despejos, tendo os proprietários usado a epidemia para gentrificar bairros que há muito eram o lar da comunidade queer. Num mundo neoliberal, até mesmo os vírus mortais podem ser cooptados para acelerar a financeirização do lar. Hoje uma circunstância comum até mesmo entre os filhos de uma classe média outrora próspera, a combinação de despejos, aumentos de rendas e mudanças de casa frequentes foi sentida pela primeira vez por grupos sociais marginalizados. E, todavia, mesmo neste contexto, surgem novas configurações domésticas, continuamente testadas e reorganizadas.

17.00–18.00
Vulnerable Empire [Império Vulnerável]
Palestra/Leitura por Anjuli Raza Kolb
No rescaldo do 11 de setembro, o terrorismo nos Estados Unidos foi sendo gradualmente descrito como uma “epidemia”. Atos de violência maciça foram associados a contágios e doenças, amalgamados num imaginário indistinto de ameaças aleatórias e desconhecidas ao corpo social. Este tipo de linguagem não é um fenómeno contemporâneo, reportando-se aos primórdios da epidemiologia, na década de 1850, e à sua origem enquanto instrumento de gestão imperial – quando massas de povos colonizados eram consideradas um “problema” de saúde pública. O emprego da terminologia epidemiológica para fomento do racismo – e da islamofobia, em particular – põe em causa os próprios fundamentos da medicina moderna.

Domingo, 31/10/2021

10.30–11.30
Vulnerable Cities [Lares Vulneráveis]
Conversa com Marina Otero Verzier e Rachaporn Choochuey*
A imposição do confinamento doméstico como estratégia de saúde pública tem uma longa história genealógica – durante as epidemias de peste medievais e renascentistas, os habitantes das cidades italianas foram forçados a ficar em casa. No entanto, a aplicação contemporânea desta estratégia não tem precedentes em termos da sua escala e abrangência. O modo como milhões de pessoas vivem hoje em dia – em pequenos apartamentos individuais devido ao custo crescente dos imóveis – foi um poderoso entrave espacial a qualquer forma de proximidade ou experiência partilhada. As populações deslocadas e as comunidades marginalizadas foram particularmente afetadas por formas de exclusão sistémicas e estruturais. Se quisermos imaginar modos mais coletivos de superarmos períodos de dor e sofrimento, poderá ser necessário questionarmos valores como a “privacidade” e a “individualidade” – e estarmos mais atentos a modos de vida muito para lá da norma ocidental moderna.

11.30–12.00
Ira Sachs, Last Adress, 2009
Screening

12.00–13.00
Vulnerable Kinship [Afinidades Vulneráveis]
Conversa com Dan Glass e Teresa Fabião, moderação de Ivan L. Munuera
Desde o início da década de 1980, quando a cobertura mediática trouxe o VIH/SIDA à atenção do público, diferentes comunidades criaram uma nova definição de parentesco através do seu ativismo. Essa forma de afinidade não tinha por base um entendimento tradicional de linhagem (consanguinidade, relações filogenéticas, estruturas familiares tradicionais), mas o modo como se relacionavam com um vírus (o VIH) e uma doença (a SIDA). O VIH foi o agente biológico que permitiu a formação de laços de afinidade entre os seus portadores, funcionando tanto como parente, quanto como progenitor. Mas estes laços não foram apenas biológicos, foram também sociais e políticos: nem todas as pessoas envolvidas nesta teia de relações eram portadoras do vírus ou tinham em comum testes positivos – e ainda que os tivessem, existiam múltiplos níveis de carga viral: indetetáveis, VIH positivos que não contraíram SIDA, falsos-positivos, etc. Os laços de parentesco entre os membros da comunidade eram, por isso, mais do que biológicos. O que partilharam foi um “parentesco escolhido”: um entendimento ativista da sua relação com o VIH e a SIDA.

13.00–14.30
Intervalo

14.30–15.30
Projeção: Sofia Gallisa Muriente, Celaje, 2020 (41 min.)
A memória, o tempo e o espaço andam de mãos dadas com a política do luto e da dor. Em Celaje, os fotogramas oscilam entre a crónica, o sonho e o documento, usando os tempos da natureza para interpretar os ciclos humanos. Combinando imagens filmadas em 16 mm e Super 8, filmes caseiros, uma fita de áudio de um quarto de polegada, filme processado à mão e uma banda sonora original de José Iván Lebrón Moreira, Celaje é uma elegia à morte do projeto colonial porto-riquenho. As memórias movem-se como nuvens, as imagens decompõem-se e envelhecem, e os vestígios desse processo são visíveis no filme e no país, como fantasmas.

15.30–16.30    
Vulnerable Memory [Memória Vulnerável]
Conversa com Sofia Gallisa Muriente* e Cruz Garcia*, moderação de Ivan L. Munuera
A ilha de Porto Rico pode constituir um paradigma da pós-colónia, tal como definida por Achille Mbembe. Tendo passado de colónia da Coroa espanhola a território norte-americano não-incorporado – um território cujos cidadãos, até hoje, não têm direito a voto – é um lugar em permanente estado de crise. Neste contexto, as doenças infectocontagiosas foram sendo moldadas e agravadas pelas assimetrias de poder – tanto a febre-amarela nos anos 1800, como o Zika e a dengue na década de 2010. A saúde pública tem servido sobretudo para fortalecer ainda mais e legitimar o controlo colonial, como sucedeu durante a campanha contra a ancilostomíase lançada pelo governo norte-americano na sequência da invasão de 1898, a qual viria a inspirar a atividade da Fundação Rockefeller. Nas palavras de Sofia Gallisa Muriente, “quem paga a dívida acostuma o olhar ao esgotamento físico e mental, ao calor e à humidade, ao sal, ao bolor, ao pólen e ao pó do ar; à recuperação desigual, às árvores deformadas e às catástrofes que se sucedem.”

16.30–18.00    
Polido
Performance 

Nota: Os convidados assinalados com asterisco (*) marcarão presença online.

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