Conversas que acontecem uma vez na vida #1
Uma conversa sobre obras falsas com Leonor Sá, conservadora responsável do Museu da Polícia Judiciária e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa.
Porque se colecionam obras falsas? A coleção de pinturas e desenhos falsos do Museu da Polícia Judiciária abarca um sem número de paradoxos e ambiguidades. Casos de contrafação, objetos do fascínio público pelo interdito e pela transgressão; falsas pinturas de qualidade estética questionável, mas como lhe chama Leonor Sá: objetos-crime autênticos. Quantos falsos estarão expostos publicamente em museus?
A dimensão fetichista da obra enquanto objeto de ostentação social e de riqueza é defraudada pela sua falsificação, a aura perdeu-se. A arte como capital, investimento e fator de valorização económica, foi-se acentuando ao longo das últimas décadas e, muitas vezes, está nos antípodas das questões estéticas que a obra pode suscitar ou da sua importância histórica. A especulação faz o falsário. Muitos desses falsificadores tornaram-se figuras públicas internacionais como Thomas Patrick Keating, Elmyr de Hory, até ao mais recente pintor chinês Pei-Shen Qian que, durante a década de 90, em Nova Iorque, falsificou um sem número de expressionistas abstratos americanos. Alguns foram genialmente retratados no filme F for Fake de Orson Welles: uma obra sobre a verdade da mentira.